Olá, camarada (utilizo este termo universal pois unissex e comunista).
O adjetivo PATETA sempre me levou a grandes reflexões. Eu gostava muito da animação Pateta e Max, transmitida na alvorada dos anos 2000 por um programa de televisão que incentivava a produção de conteúdo pirata, mas isso é assunto para outro dia. Na animação o consagrado personagem da Disney vivia constrangendo o filho, Max, com suas trapalhadas. Foi dessa forma que pateta se tornou para mim o que é para todos os falantes de língua portuguesa, sinônimo de pessoa desastrada e geralmente pouco inteligente. Com a formação do meu vocabulário fui conhecendo variações da lisonja, como o PATÉTICO, termo que gosto muito.
Contudo, ao começar a consumir mais conteúdos em língua inglesa eu fui conduzido ao mundo dos cognatos, falsos ou não, com a palavra SYMPATHETIC, que dependendo do meu humor parecia com “simpático“ (verdadeiro significado do termo, portanto um cognato real) ou com o patético, estrela do longo parágrafo anterior, tornando-se um falso cognato. Por que a palavra patético despertava em mim um sentimento bom, se todos nós sabemos que não é? Me encontro as voltas com a palavra desde esses momentos antigos, ela vem e vai no meu pensamento enquanto tomo um café olhando o lava-jato de rua fazer seu serviço sem máscara durante a pandemia ouvindo as melhores do CD Summer Eletrohits Vol. 1 (2004) Completo.
Hoje, momentos antes de escrever esse boletim (carece de tradução mais razoável para newsletter), me deparei novamente com o adjetivo pateta. Talvez ele tenha ficado no meu subconsciente depois do dia em que, durante a madrugada (por volta da 1h), vi uma chamada do Encontro, com Fátima Bernardes, dizendo que a matinal apresentadora discutiria um novo perigo que rondava as crianças de todo Brasil: O HOMEM PATETA (não vou colocar imagens aqui pois não quero perturbar vocês como fui perturbado pela imagem na bruxuleante luz da tv à 1h). O homem pateta não é real e deixo aqui o link para um excelente vídeo em que Gilmar Lopes, do canal E-Farsas, desmistifica o hoax. Inclusive o Gilmar é um sujeito que faz esse negócio de checagem de fatos antes de virar moda (apesar de eu achar que jornalismo é essencialmente checagem de fatos e não ver nenhum sentido nessa ~~especialização~~ da profissão. São tempos duros para a comunicação, mas reclamarei disso ao longo de todas as publicações, portanto não me alongarei nessa reclamação específica).
Divagação devidamente feita, fui pesquisar a etimologia da palavra PATETA. Não achei. Então fui por aproximação e cheguei à palavra patético, que como já vimos nesse boletim, sempre usei para designar coisas dignas de pena. Cheguei inicialmente ao significado literal da palavra, vamos a ele:
Adjetivo
pa.té.ti.co
que comove a alma; que enternece; tocante
relativo a ou próprio do nervo patético
Qual não foi minha surpresa ao descobrir que patético é positivo, no fim das contas? Bom, pelo menos os significados acima me parecem bem positivos (incluo o resultado do nervo patético (hoje chamado de nervo troclear) porque é ele que dá movimento ao músculo oblíquo superior, responsável por fazer eu, você e todo mundo revirarmos os olhos, seja esse movimento voluntário ou não.
Patético é algo tocante, singelo, terno. A origem da palavra é grega. PATHETIKOS, sensível às questões exteriores, capaz de sentir emoções expressas externamente. Patético se aproxima ao que hoje o pessoal está chamando por aí de empatia. Ambas as palavras tem em comum o PATHOS, palavra grega para sofrimento, afeto. E aqui o adjetivo se aproxima ainda mais do atributo anglófono sympathetic. Meu coração de criança não estava tão errado afinal, em sentir um quentinho relacionado à palavra patético. E o mesmo coração, já meio velho e desgastado, começa a enviar mensagens para a minha cabeça a fim de convence-la que eu sou, no fim das contas, um sujeito muito patético.
Gato com Chapéu de Alumínio
Eu acho que não seria desengano dizer que essa newsletter é também uma espécie de spin-off do podcast que apresento semanalmente com minha amiga artista Leila Kelly.
Saiu hoje e está fresquinho mais um episódio do nosso humilde podcastinho, disponível em todas as plataformas agregadoras, mas vou deixar uma listinha com os links aqui caso você queira apenas clicar. No episódio desta terça-feira lembramos de coisas, nos reconhecemos nos esquecimentos e falamos de memória.
Fique bem, fique em segurança.
Esta carta foi escrita em Vitória, no Espírito Santo, e enviada para todo o universo através do protocolo comum chamado internet em 07 de julho de 2020. Eu sou o Wing Costa, mas disso você já sabia.