Oi, tudo bem por aí? Espero que esse e-mail te encontre bem. Por aqui as coisas estão atribuladas, mas com agitações diferentes das habituais. Caso neste sábado com a mulher da minha vida. Uma aventura completamente diferente. Me sinto preparado. Ou não me sinto muito mal por não estar tão preparado assim.
Enquanto minha agora companheira perante o Estado Brasileiro (o casamento de sábado é a cerimônia religiosa e rito de passagem escolhido por nós) fazia as unhas para o grande dia, eu dirigia meio sem rumo meio rumo à praia. Parece que todos os caminhos me levam ao mar — enquanto escrevo essa carta no celular no sofá da minha sogra, o corretor alterou mar para mãe, achei um lindo ato falho da máquina-extensão-da-minha-consciência. — e neste caminho específico eu fui ouvindo o podcast do Mano Brown em que ele entrevista Fernando Holliday.
Esse rapaz tem posições completamente abjetas e foi interessante acompanhar muita gente criticando a sumidade Mano Brown por convida-lo. Da minha parte eu sempre achei que era uma boa ideia. Na melhor das hipóteses o Racional colocaria algum juízo na cabeça do “representante da direita liberal”. Na pior ele massacraria o rapaz no campo das ideias. Ao ouvir o podcast percebi uma via completamente diferente para aquela conversa. Admirei ainda mais Pedro Paulo, o Mano Brown.
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Voltando da praia e ouvindo podcast me deu saudade do Saturado (o nome foi um presente da amiga Brunella Brunello, que já passou por essas cartas), um podcast que fiz sozinho e consegui manter por pouquíssimo tempo com episódios de no máximo dez minutos. Muito porque escrever e gravar e editar da um trabalho fenomenal, mas não vem ao caso aqui. Tive saudade de falar para alguém ouvir. Falar com a voz, uma voz diferente da que eu expresso aqui. Deu saudade, sei lá.
.afetos
Voltando da praia fui buscar minha companheira. Voltei tateando de memória o caminho e achei o caminho de volta. Tenho um método para encontrar caminhos de volta, mas ele é complexo demais para eu explicar aqui. Ou pessoalmente. Acho que só funciona na minha cabeça. Mas isso também não vem ao caso.
Dessa parada até em casa encontramos o irmão da minha companheira pelo caminho. Demos uma carona. Parei no condomínio deles e enquanto eles caminhavam para casa fui jogar o lixo fora. Escrevendo essa introdução ao assunto do qual quero tratar percebo mais uma vez uma presença enorme do cotidiano em mim. Dos rituais dos dias e também da falta deles.
Separei o lixo na sacola e coloquei nas lixeiras correspondentes. Voltei para a casa sentindo o vento e assobiando e percebendo os carros estacionados, aqueles velhos que estão sempre nas mesmas vagas, já cobertos de poeira. E lembrei do diretor de filmes de animação Makoto Shinkai, que me foi apresentado pelo amigo e correspondente desta carta, Bruno Duluoz. A obra mais aclamada dele é o filme Your Name, disponível naquele serviço de streaming daquele canal etc e tal.
O único filme que vi de Makoto Shinkai foi O Jardim das Palavras, um conto de fadas lindo e contemporâneo. Esse em nenhum streaming que eu saiba. Nesse filme, um pouco sobre tristeza e um pouco sobre solidão, eu aprendi muito sobre os pequenos espaços da vida. O espaço de um respiro, o espaço da espera, os minutos andando na praia ou no caminho ou no tempinho entre as lixeiras e a casa e o vento que sopra nesse intervalo.
Quem sabe um dia eu não gravo um Saturado sobre isso, lá eu também sou o Wing Costa, mas você já deve suspeitar disso.
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Fique a vontade para responder este e-mail, eu gostaria muito de ouvir de você suas impressões sobre essa correspondência.
Eu gosto muito de ler seus texto, mas por algum motivo acho que nunca disse isso. Dou sorrisos enquanto leio e me identifico quando você diz o quanto o cotidiano faz parte de você. Acho que também tenho isso.
Continue curtindo o cotidiano, curtindo a brisa e mais uma vez toda alegria, amor e diversão pros companheiros! 🖤