Jacaré de boia ou teorias absurdas da televisão
Eu quis fazer um título impactante - Episódio 03, temporada 01
Oi, tudo bem com você por aí? Estamos na terceira carta da temporada. São pouco mais de 170 correspondências, você acha que é fácil passar cola em todas elas pra fechar direitinho e chegar cheirosinha aí no seu e-mail? Pois saiba que é sim, tirando a parte difícil de tentar digerir alguns sentimentos cotidianos que eu imagino que possam ser sentidos individualmente por um número coletivo de pessoas. Um negócio de identificação geracional, viver no mesmo tempo, na mesma época, ser mais ou menos contemporâneo de todo mundo que está vivo agora. Me parece algo sobre envelhecer também, digo isso do alto dos meus 30 e poucos anos, mas veja só se não é uma época muito louca para se estar vivo. É difícil sofrer nesse planeta sozinho. E para muito além disso, não tem porquê.
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De acordo com a Organização das Nações Unidades, no dia 15 de novembro deste ano o planeta deve atingir a impressionante marca de oito bilhões de pessoas. O que são oito bilhões? Eu não consigo imaginar oito bilhões de unidades de coisa num mesmo espaço. Deve ser por isso que esse bicho se espalha pelo planeta. É incrível que é um bicho que continua se espalhando. Me parece que a quantidade em nada tem a ver com o jeito da gente viver. Você já parou para pensar na quantidade de chinês que tem no mundo? É muito chinês. E eles vivem de uma maneira muito diferente da gente. Que eu não faço ideia. Não faço ideia de como vive um chinês. Um coreano. Um tailandês. Esses dias fui dar bom dia para um amigo em um aplicativo de mensagens e escrevi tudo doido. Apertei teclas muito diferentes das que eu devia apertar. Me pareceu “bom dia”, mas em filipino. Como vive um filipino?
Eu tenho curiosidade sobre essas coisas porque apesar de ter condições mínimas de dignidade para viver bem neste Brasil, o que já é muita coisa, eu me pego pensando num bordão antigo das épocas de redação de jornal. “Tá foda viver”. Tá difícil para a maioria dos brasileiros. Parte da população passa fome. As coisas estão cada vez mais caras, os salários são cada vez menores, as pessoas são espremidas em malabarismos trabalhistas reformados, emitem notas, emitem opiniões. Tudo ao mesmo tempo.
Eu sou um absurdista convicto. Acredito que a gente vive uma grande obra de ficção escrita por milhares de macacos com milhares de máquinas de escrever.
(Já falei da teoria dos macacos infinitos em alguma carta? Não me lembro. Tenho considerado voltar com o podcast Saturado - possivelmente com nova identidade, formato e nome - e essa me parece uma ótima teoria).
Acredito que a gente vive essa grande obra de ficção em que tudo pode acontecer o tempo todo. É claro que existem muitas regras neste caminho, mas esperar absolutamente tudo de qualquer parte te faz ser pouco surpreendido por situações completamente bizarras.
Árvores epilépticas
No universo da televisão e das séries de TV existem muitas teorias. Quem nunca se envolveu com alguma delas, em qualquer coisa que já assistiu. Filme, desenho, anime. Sempre tem um monte de teoria que prende a gente e faz a gente desenhar aqueles fios imaginários de quadro de investigadores norte-americanos, com a ligação entre os personagens e as possibilidades de ter acontecido isso e aquilo. Esse sentimento é uma delícia, mas eu gosto mesmo é de outra coisa. Uma coisa que eu aprendi hoje que se chama Árvores Epilépticas.
Esse termo descreve teorias completamente fora de cogitação, pelo simples fato delas serem malucas demais. Ele foi cunhado a partir do seriado Lost. Alguém um dia se perguntou: por que as árvores de Lost estão sempre tremendo e fazendo barulhos esquisistos?
A resposta foi: as árvores estão tendo crises epilépticas.
É impossível acreditar nessa teoria. Ainda assim, diz na minha cara que não é uma ótima teoria. Eu te desafio a pensar em uma resposta mais absolutamente sem sentido que se encaixe tão perfeitamente na situação. É sobre esse desafio que estou falando.
Cheguei nesse termo depois de encontrar outro. “Lógica de Geladeira”. Aquela situação específica sobre alguma coisa que você só encontra quando abre a geladeira sem muito propósito específico e tcharam. Um pensamento absurdo sobre alguma coisa te acontece como uma epifania, uma explicação muito clara para algo que na verdade é só um furo no roteiro, ou algo que alguém não queria perder muito tempo explicando.
Um exemplo prático disso na música popular brasileira. Na canção Deixei de ser Cowboy por Ela, de Chitãozinho & Xororó, o eu-lírico passa por uma situação que descreve como “um engano da vida”. Ele diz que era um bom cowboy, mas encontrou alguém. E por essa pessoa deixou de ser cowboy, parou de viajar e deixou tudo que amava para trás. Mas aí vem o que? Os segredos da paixão, já que por ele não ser mais peão ela resolveu o abandonar.
É o que pode acontecer com um dos meus personagens preferidos de Pantanal, Zé Lucas de Nada. Se ele correr atrás da Gabriela Prioli pantaneira, pode tudo dar errado. Torço para que as coisas deem certo na vida dele.
Recomendações
Eu vou criar essa sessão aqui a partir deste episódio da newsletter. Vou chamar de RECOMENDAÇÕES por falta de um nome com mais elegância e graça.
Novela Pantanal, na Rede Globo: pulando as partes do casal Jovi e Juma
O Principe Dragão, na Netflix: talvez uma das animações mais inclusivas e bonitas e divertidas que já existiu. Vai ser uma quarta temporada, então dá para maratonar sozinho ou com sua criança preferida até chegar lá.
Conteúdo de macaquinhos, no Instagram: é meu novo vício. Macaquinhos são engraçadinhos.
tchau
Se você chegou até aqui em mais uma correspondência completamente adequada à teoria das árvores epilépticas, te agradeço mais uma vez a paciência e o carinho. Se algo que você viu por aqui te lembrou alguém, considere enviar para esta pessoa. E por que não para todas as pessoas na sua rede social em forma de compartilhamento? É o seu prestígio que garante a nossa alegria™.
Além disso, se tiver alguma teoria maluca que você gosta muito e se encaixa no que conversamos hoje, que tal responder a este e-mail? Eu adoro ler e ouvir e aprender mais com todo mundo que assina ou recebe essa carta de alguma forma.
Até a próxima!
Olá. Tranquilo por aqui na medida do possível. E com você?
Li o seu texto logo após este aqui:
https://voutefalar.substack.com/p/vou-te-falar-55
Eles dialogam muito bem, não?