Olá, olha eu aqui quase na data prometida. Eu estou ficando bom com prazos. Pensei em três ou quatro formas diferentes de começar essa carta. Todas elas me pareceram muito autodepreciativas. Escolhi o caminho mais fácil: falar sobre a primeira vez que percebi o que era a depressão e o que ela estava fazendo comigo.
***
Ontem eu fui jogar futebol, essa atividade física semanal. Preciso praticar mais atividades físicas. Você faz isso com frequência? Faz parte de uma rotina saudável para o corpo e para a mente. Foi jogando futebol que um dia eu comecei a chorar. Chorar muito. E também rir um pouco, mas muito mais chorar. No meio do campo. Pouco tempo antes de tocar a bola pro lado. Fui para a lateral do campo e disse que alguma coisa tinha acertado meu olho. Eu estava chorando muito mesmo, talvez até me preocupasse se um dia encontrasse alguém chorando daquela forma num campo de futebol. Ali eu disse pra mim mesmo que me parecia a hora certa de procurar ajuda.
Eu não consigo me lembrar do contexto da minha vida na época. Mas eu tenho certeza que pouca parte daquele contexto específico era responsável pelo choro. Alguns fios estavam soltos e desencapados da minha cabeça. Um encostou no outro e saiu faísca. Tinha um monte de coisa muito inflamável lá dentro aparentemente, então eu percebi que as coisas não estavam muito bem (gente parece que eu descrevi uma crise de burnout hahahah será que essa é a semelhança entre aquele momento e esse que me fez voltar uma lembrança tão específica? Sei lá né, doideira, complicado isso aí).
A tristeza é a febre da mente
True Crime
Em 1976 o Brasil ficou chocado com o assassinato da socialite mineira Ângela Diniz pelo playboy Doca Street na Praia dos Ossos, no Rio de Janeiro. O crime foi devidamente espetacularizado como uma grande novela de amor e ciúmes. O assassino ganhou ares de galã arrependido, o boom do “crime passional”. A vítima passou a ter a moral questionada, em especial sexualmente. Doca foi condenado a dois anos de prisão e depois solto. Um amplo protesto feminista pressionou até que um novo julgamento foi realizado e o assassino foi condenado a quinze anos de prisão. Esse caso foi muito bem contado no podcast Praia dos Ossos, da Rádio Novelo. Fica aí a indicação para quem está no hype True Crime da Mulher da Casa Abandonada.
***
Em 1976, o programa Fantástico, a revista eletrônica da Rede Globo, passou um videoclipe gravado na praia de Copacabana. Nele, um sujeito muito hippie engraçadinho chamado Hermes Aquino toca violão e canta a música “Nuvem Passageira”, tema da novela “O Casarão”. Essa música amanheceu na minha cabeça sábado no último sábado pela manhã. Os primeiros versinhos. “Eu sou nuvem passageira, que com o vento se vai”.
Resolvi colocar a música no rádio do carro. Desde sábado esse chiclete na minha cabeça. Acho que esse é um bom momento para ouvir, visual legal, Vitória é uma cidade linda. “Eu sou nuvem passageira, que com o vento se vai. Eu sou como um cristal bonito, que se quebra quando cai”. E eu comecei a chorar. Chorar muito. E também rir um pouco, mas muito mais chorar. Fica aí o clipe da música. Recomendo também a versão de Kleiton e Kledir meio rap meio rock.
Reuniões online
Eu lembro de alguém ter dito que a melhor plataforma de fazer reuniões online é a versão online do jogo Red Dead Redemption. Você conversa com seus pares sobre os relatórios e as demandas, mas em volta de uma fogueira tomando um moonshine ao som da noite do álamo estadunidense.
Eu achei divertido. Hoje vi esse tuíte e pensei que se a comunidade online do jogo está preparando um funeral para o próprio jogo, fazer reunião é o mínimo que eles fazem para ter esse nível de organização.
***
Organização tem sido uma palavra assustadora para mim no momento. Meu grande desafio. Se tiver dicas sobre organização de rotina que não pareça um outro grande trabalho, estou aceitando. Listas em caderninhos tem funcionado quase bem.
Se você chegou até aqui, eu agradeço de coração pela paciência em ler tantas pequenas histórias pela metade. Se o que eu escrevi fez sentido para você de alguma forma, me deixe saber! É só responder este e-mail e dizer o que você achou e que outras histórias essas daqui te fizeram lembrar. Vou gostar muito de ouvir de você.
Caso você conheça alguém que pode gostar de ler coisas sobre o universo do trabalho, das dificuldades psicológicas de ser brasileiro e outras bobagens da internet, encaminhe este e-mail ou compartilhe em sua rede social favorita (o Twitter) essa nova carta.