Olá, como vai você? Eu espero que o tempo tenha sido gentil desde a última vez que nos falamos. Por aqui o de sempre: muito trabalho, algum desespero e momentos de paz. Não necessariamente nesta ordem.
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O que com certeza não mudou desde então é o fato de que eu estou vendo uma série incrível no serviço de streaming lançado recentemente daquele canal que poderia me patrocinar tranquilamente. High Maintenance é o nome da série. Uma série sobre pessoas vivendo suas vidas e fumando maconha. Sendo o fato de fumar maconha apresentado como algo completamente corriqueiro, um hábito desimportante da maior parte das personagens, embora muito importante para a narrativa seriada ao passo que é o vendedor de maconha o fio que liga as histórias.
O que me levou a escrever sobre essa série, que começou como uma websérie no Vimeo antes de ser capturada pelo canal do qual falei lá em cima e você já sabe, foi o episódio 06 da segunda temporada. Ele é o primeiro episódio da série cujo foco está no vendedor de maconha ruivo meio careca que anda de bicicleta para fazer suas entregas. Ele está com o braço quebrado e se associa com um amigo para continuar o trabalho. Ele também come cogumelos e fica completamente alucinado. O episódio se apresenta para mim como uma grande autorreferência. No primeiro deles, o amigo que está ajudando o ruivo meio careca que anda de bicicleta está no carro com muitos palhaços. Os palhaços estão ali para pegar a erva, mas também conversam sobre algum filme. Ao descrever a obra de um diretor de cinema, um dos palhaços diz que o começo é confortável, mas a partida para o segundo ato é estranha e desconfortável — a experiência de assistir a série foi exatamente assim para mim — “mas você fica ali”, diz o palhaço de cabelo verde. E você também fica ali em High Maintenance. “Até que na próxima…”, começa mas não termina o palhaço de cabelo verde. Ele não termina porque é interrompido. E ali dá pra perceber que eles estão falando também da série. Que começa confortável, engraçadinha, mas a partida para o segundo ato é estranha e desconfortável. E você começa a perceber que essa é a sensação que a série te passa. É também a sensação que fez com que eu me enxergasse naquela série. Como um personagem de um episódio de High Maintenance. Minha vida no segundo ato até que na próxima… Eu não sei o que esperar. Da história que o palhaço de cabelo verde conta, da série e também da minha vida. Vamos torcer para vir coisa boa por aí. Na série e na vida.
.tchau
A carta de hoje vai ser só isso mesmo. Ela começou a ser escrita em algum momento tempos atrás, com o objetivo de manter a periodicidade. Eu com certeza faria alguma reflexão meio esdrúxula sobre como a nossa vida tem sido cada vez mais parecida com alguma série, ou pelo menos como a minha exposição a narrativas seriadas desde quando eu baixava episódios de tudo quanto é coisa em .rmvb em sites de esquinas estranhas da internet fez com que eu me imaginasse em algumas dessas narrativas, ou como coadjuvante em uma grande série que algum ser cósmico tá lá assistindo e dando gargalhada dessa grande comédia de erros. Mas eu perdi o fio da meada. Estou cansado demais. Exausto. Quero continuar escrevendo com alguma periodicidade, quero continuar enviando essas cartas. Já reuni alguns assuntos pra gente divagar juntos por aqui semana que vem.
Se você já viu High Maintenance, compartilhe sua opinião comigo, é só responder essa newsletter como um e-mail normal. Se você nunca viu, considere ver, é realmente muito legal. Também na mesma plataforma recomendo Bored to Death, sobre um escritor num processo de hiato criativo que arruma uns bicos de detetive particular durante a noite. Tudo bem noir, como manda a estrutura. Tudo bem divertido também.
Se você gostou dessa crítica-desabafo ou conhece alguma pessoa que pode gostar do texto ou da série, compartilha a carta por aí nas suas redes sociais ou encaminhando este e-mail. Eu com certeza vou adorar conversar com mais gente.
Com carinho, Wing.